Para falar de trabalho, também é preciso falar sobre sociedade. A sociedade disciplinar é baseada na restrição e na ordem, principalmente pensando na política de funcionamento rígido das fábricas.
A sociedade disciplinar se desdobra na sociedade do desempenho, onde a liberdade é pregada de forma a otimizar a produção do sujeito. Essa sociedade é uma consequência do neoliberalismo, onde a subordinação é trocada pela autonomia.
O trabalho tinha como base a repressão, a punição e o castigo. Hoje, essa ideia não é mais aplicável ao conceito de trabalho. A sociedade passa então da repressão para o excesso de positividade no discurso da autonomia. Não mais se fala de uma época regida por regras e obrigações dentro das organizações, mas sim de uma “falsa liberdade” que dá autonomia as pessoas. Com esse discurso positivo demais, fica a critério de cada um se desenvolver e produzir.
O sujeito da sociedade do desempenho pensa que é livre, mas esquece que suas raízes foram marcadas pela rigidez. O discurso da autonomia não tem tanta liberdade assim, já que é a sociedade que cobra um desempenho cada vez maior, de forma implícita. A coerção não vem de um superior, mas sim de si mesmo. “O trabalhador agora é empreendedor de si mesmo, e os manuais de autoajuda são seus guias espirituais nessa empreitada”.
O medo da punição por parte do subordinado é agora substituído pelo medo de não dar conta de si mesmo, de suas ambições. O medo de fracassar provoca angústia e cansaço.
A sociedade do desempenho força a produtividade, impulsiona o exibicionismo e culmina no cansaço. Há também o agravante das redes sociais, cada vez mais em alta e cobrando certa “transparência” dos profissionais. Não é apenas necessário fazer, mas sim, mostrar que se faz.
A cobrança pelo sucesso pode levar ao extremo, causando cansaço e esgotamento. A consequência desse sofrimento é o Burnout. O Burnout não vem de uma sociedade que reprime, ela vem do contrário: do excesso do desejo de produtividade.