A PANDEMIA EMOCIONAL POR COVID-19

A PANDEMIA EMOCIONAL POR COVID-19
A PANDEMIA EMOCIONAL POR COVID-19

Dr. Ícaro Carvalho Pires. Médico CRM RJ 52.103642-4 Psiquiatra RQE30167 Psiquiatra da Infância e Adolescência RQE 30339

 

 

 A PANDEMIA EMOCIONAL POR COVID -19

 

A epidemiologia, como ciência, concentra-se no estudo da distribuição dos fenômenos de saúde e doença, seus fatores condicionantes e determinantes, como o ambiente, vetores, geografia, fatores de suscetibilidade e resistência do hospedeiro, dentre outros. Muito foi escrito sobre a epidemiologia de doenças infecciosas, mas a epidemiologia das emoções tem sido negligenciada. A cada surto, a rápida disseminação da doença é anunciada por uma auréola de pânico público, como ocorrido na pandemia de H1N1. Danielle Ofri, MD, Ph.D, introduziu esse conceito de "epidemiologia emocional" em 2009, no seu artigo publicado no New England Journal of Medicine.

 

Durante a pandemia de gripe H1N1 daquele ano, Dra. Ofri observou uma pandemia emocional concomitante. Sua clínica foi inundada por telefonemas desesperados e pacientes ansiosos, exigindo respostas sobre o H1N1 e o desenvolvimento de uma vacina. Seis meses depois, uma vacina foi criada mas o pânico se dissipou tão rapidamente quanto se espalhou. 

 

Seus pacientes exigentes não estavam mais interessados na vacina. Como explicar essa mudança dramática em 6 meses? Certamente não estava relacionada à lógica ou aos fatos. Ela postulou que isso refletia uma espécie de contágio psicológico de mito e suspeita. Na epidemiologia, modelos matemáticos são usados para estudar como as doenças infecciosas se espalham, entender o curso das doenças, prever padrões de surtos e identificar estratégias para controlar a doença. Os modelos epidemiológicos e a vigilância amadureceram significativamente.

 

Talvez o mais recente avanço tecnológico seja a internet. A alavancagem da mídia social para a comunicação em tempo real de doenças infecciosas foi identificada como uma maneira de criar um sistema eficiente de vigilância pública para detecção precoce e resposta imediata. Utilizando e disseminando fatos e evidências sólidas em casos de surto, baseando-se em dados de saúde pública e epidemiologia confiáveis.

 

Dados lógicos talvez sejam a melhor maneira de combater as incertezas, rumores e especulações que são indutores e propagadores de ansiedade. Precisamos, no entanto, aprender muito mais sobre como lidar com a possível pandemia emocional que acompanha a pandemia por coronavírus. O medo e a ignorância podem levar a pânico e comportamentos incontroláveis, e, em grande escala, podem ter efeitos deletérios para sociedades inteiras. Além disso, outros componentes da atual pandemia podem gerar fortes reações emocionais, como o distanciamento social em quarentena, levando ao isolamento individual e de familiares. Nesse contexto, o processo epidemiológico vivenciado por todos nós, reflete sobre os campos psicológico e social, contribuindo para a produção de pensamentos, comportamentos e respostas emocionais individuais, repercutindo assim, sobre a sociedade como um todo. O excesso de informações por parte da mídia e das redes sociais, por vezes entremeados de “fake news”, podem contribuir para disseminação de pânico individual ou em massa, comprometendo os recursos de enfrentamento de um indivíduo e, por conseguinte, de uma comunidade inteira.

 

 Portanto, sabendo de tudo isso, os profissionais de saúde mental devem adotar seu papel interdisciplinar, atuando como consultores em discussões com epidemiologistas, autoridades em saúde do país, profissionais da saúde pública e o público em geral, com o objetivo de compreender o impacto emocional das medidas adotadas na sociedade, bem como sugerir a promoção de medidas acessíveis a toda a população em saúde mental.

Texto escrito por:
Médicos do bem, Rio de Janeiro.
CORONAVÍRUS
Rio de Janeiro / RJ

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