A Cirurgia Torácica é a especialidade médica que atua no tratamento cirúrgico de doenças dos órgãos do tórax, excetuando-se, via de regra, o sistema cardiovascular.
As cirurgias na especialidade de Cirurgia Torácica foram realizadas predominantemente, durante quase todo o século passado, com técnicas cujo acesso aos órgãos intratorácicos – pulmões e outros órgãos do mediastino – era feito por grandes incisões. Os cortes da musculatura da parede torácica e afastamento ou mesmo secção de um ou mais componentes ósseos – arcos costais e esterno - acarretam em muita dor na fase de pós-operatório e demandam muito tempo para a recuperação plena dos pacientes. Muitas vezes, a própria técnica limitava a possibilidade de oferecer o tratamento cirúrgico considerado adequado para determinados pacientes, quando o risco era considerado elevado demais por falta de “reserva fisiológica” (condições clínicas) para suportar o pós-operatório.
Já no início deste século, avanços tecnológicos em equipamentos específicos para técnicas minimamente invasivas –cirurgia por vídeo – possibilitaram que as mesmas cirurgias, antes extremamente dolorosas no pós-operatório, agora feitas com pequenos cortes e guiadas por uma câmera de vídeo. Desta forma, houve inclusão de parte dos pacientes que eram considerados não aptos anteriormente.
Em paralelo a estes avanços, uma nova plataforma cirúrgica veio sendo desenvolvida. Ela ganhou força no início da década atual e popularizou rapidamente nos últimos cinco anos ao redor do mundo. Esta técnica é denominada de Robótica. Nos parágrafos seguintes as principais características desta técnica são ilustrados.
O que é?
A cirurgia robótica é uma modalidade de cirurgia minimamente invasiva (modalidade cirúrgica em que se fazem pequenos cortes e se utilizam instrumentos finos e câmera de vídeo), ou melhor, a evolução da mesma, pois nela convergem vários avanços tecnológicos:
visão 3D pelo cirurgião (nos sistemas anteriores a imagem era transmitida em 2D);
maior amplitude de movimentos dos instrumentos cirúrgicos, que são articulados e mimetizam movimentos de nossos punhos e mãos;
maior precisão dos movimentos, pois o sistema filtra o tremor das extremidades das mãos que podem ser gerados pelos próprios batimentos cardíacos do cirurgião;
menor lesão tecidual.
Todos esses avanços promovem uma cirurgia mais segura, precisa e eficiente, proporcionando uma recuperação mais breve para o paciente.
O robô é sempre comandado por um cirurgião treinado e certificado, que fica no console. Todos os seus movimentos são realizados pelo cirurgião. O console dispõe de sensores, que travam os braços do robô caso o cirurgião se afaste deles. Um outro cirurgião, o assistente, que também recebeu treinamento e certificação específica, permanece ao lado do paciente durante toda a cirurgia, ele é responsável por efetuar algumas manobras durante a cirurgia e se certificar do bom funcionamento dos instrumentos.
Potenciais vantagens:
Menor tempo de recuperação no pós-operatório;
Cirurgia mais precisa;
Menor dor no pós-operatório;
Menor tempo de internação;
Menor risco de sangramento e infecções;
Incisões (cortes na pele) menores.
Resultados:
Estudos sugerem que pacientes com câncer de pulmão podem ter “upstaging” – melhor estadiamento per-operatório –, o que melhora a performance do tratamento oferecido e, por consequência, as chances de cura;
Replicabilidade e melhor padronização das técnicas, os equipamentos permitem que cirurgiões mais experientes e com melhores resultados orientem os cirurgiões ainda menos experientes, melhorando seus resultados iniciais e, por consequência, o resultado do tratamento oferecido aos pacientes;
Meu primeiro contato com a técnica e tecnologia foi em 2008, durante fase de fellowship no Instituto Europeu de Oncologia (Milão – ITA), quando ainda era uma técnica restrita a alguns centros de excelência ao redor do mundo. Hoje, após onze anos, devido aos resultados e benefícios promovidos aos pacientes, associados a popularização da tecnologia já consideramos a técnica como preferencial – quando disponível para acesso dos pacientes – para tratamento de doenças como: câncer de pulmão em seu estagio inicial, Miastenia Gravis, entre outras que acometem os órgãos intratorácicos.